Marques da Silva, o arquitecto dos edifícios-monumento |
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As obras de José Marques da Silva (1869-1947)
Estação de S. Bento
Praça de Almeida Garrett
1896-1916
A Estação de S. Bento é a adaptação ao Porto do projecto de fim de
curso que Marques da Silva desenhou na Escola de Belas-Artes de Paris,
e que expôs depois na Câmara do Porto, logo que regressou. "Ele sabia
que o comboio estava a chegar ao Porto e fez o seu projecto à medida
das necessidades de uma estação para a cidade", diz André Tavares. No
edifício, é visível a influência do mestre de Marques da Silva, Victor
Laloux (autor do Quai d"Orsay, em Paris, uma estação ferroviária que é
agora um museu). Mas "S. Bento é mais um edifício urbano do que apenas
um salão para receber comboios e passageiros", nota Tavares, realçando
a importância que a estação, pela sua monumentalidade, tem nesta zona
da cidade.BairroO Comércio do Porto
R. Constituição/Serpa Pinto
1899
Para quem conhece as obras mais monumentais de Marques da Silva, não
deixa de ser surpreendente ver que ele também abordou o problema da
habitação, e também desenhou bairros operários. Um exemplo, que ainda
sobrevive mantendo a estrutura original essencial, é o conjunto de
pequenas casas implantadas em três ruas na zona da Constituição, numa
iniciativa do jornal O Comércio do Porto. A tipologia base é a de
quatro habitações geminadas num só volume de quatro frentes, com dois
pisos, e rodeado por pequenos jardins, que conseguem "o máximo
aproveitamento do espaço e a máxima contenção de custos". O plano
original incluiu 14 fogos, que foram construídos entre 1899 e
1904.
Teatro de São João
Praça da Batalha
1909
É, depois de S. Bento, o outro edifício-monumento com que Marques da
Silva marcou a Baixa. O arquitecto aproveitou as fundações e parte dos
escombros do anterior teatro, que ardera em 1908. "Nota-se bem a ideia
de usar uma "peça de arquitectura" para organizar a irregularidade
urbana da Praça da Batalha. O teatro dá-lhe coerência", diz André
Tavares. E chama a atenção para os elementos decorativos da fachada e
para a solução das portas e das janelas do primeiro piso, com amplos
arcos em vidro a emoldurar as janelas instaladas dentro deles. No
interior, segue o desenho clássico do teatro à italiana, com a
organização dos espaços - os átrios, as escadas e o salão nobre - à
francesa, seguindo o modelo da Ópera de Paris.
Casa-atelier
Praça do Marquês de Pombal
1909
Construída num terreno ao lado da casa do seu sogro José Lopes Martins,
a casa de Marques da Silva mistura criteriosamente as funções de
residência e de atelier, tendo o cuidado de, ao mesmo tempo, as separar
e fazer comunicar. A fachada para o Marquês mostra "o entusiasmo
decorativo", bebido na estética do românico, com que o arquitecto
sempre pontuava as obras. A sala de estar denota o mesmo cuidado
decorativo, tanto na projecção da sua bow window como nas formas do
fogão de sala ou na escada. O arquitecto fez também intervenções
importantes na casa do sogro. Actualmente, ambas as propriedades
pertencem à Fundação Instituto Marques da Silva, estando a ser objecto
de restauro.
Escola Alexandre Herculano
Avenida de Camilo
1914-1931
Tanto esta escola como a Rodrigues de Freitas (1918-1932) são obras com
que Marques da Silva se envolveu no plano de expansão da cidade e de
gestão do crescimento urbano. Qualquer delas tem uma relação estreita
com o lugar: a Avenida Camilo, no caso da Alexandre Herculano; a Praça
Pedro Nunes, na segunda. Trata-se de dois liceus da República, que
respondem ao ideário de instrução do povo, e, arquitectonicamente,
seguem "a lógica funcional pragmática" que estava em voga na Europa,
diz André Tavares. São edifícios com grande amplitude espacial na
disposição ortogonal dos diferentes volumes funcionais. E estão ambos
marcados por uma decoração reduzida ao elementar, mas muito
eficaz.
Seguros A Nacional
Avenida dos Aliados
1919
A Avenida dos Aliados, aberta na segunda década do século após a
demolição da antiga câmara, é demarcada a sul por dois edifícios
monumentais encimados por duas torres-escultura. São ambos de Marques
da Silva, que assim deixou também a sua assinatura na "sala de visitas"
da cidade. O do lado esquerdo é a sede de uma seguradora, e é marcado
por uma pujante docoração Beaux-Arts. São dois edifícios que aproveitam
as virtualidades da nova tecnologia construtiva do betão armado que
permitia apostar nesta filigrana decorativa. O interior também é muito
cuidado, e este contém ainda um hall-galeria comercial (cafetaria,
barbearia...) que fazia o espaço urbano entrar pelo edifício dentro. É
"a arquitectura como obra total", diz André Tavares.
Jazigo de José
Lopes Martins
Cemitério da Lapa
1921
A arquitectura religiosa e funerária foi também cultivada por Marques
da Silva, que desenhou as igrejas de S. Torcato e da Penha, em
Guimarães. Paralelamente, sempre se interessou pela arquitectura
funerária. Em Paris visitou certamente os cemitérios, e em particular o
de Père Lachaise, de onde, diz o especialista na sua obra, António
Cardoso, trouxe a inspiração "para capelas de inumação ostentatória e
gosto românico". Uma dessas capelas é a estrutura central do jazigo que
fez para o seu sogro, na Lapa, e que se completa com uma sepultura do
outro lado do passeio, criando um território onde cabem ainda dois
bancos de pedra. "É trazer a lógica urbana da cidade dos vivos para a
cidade dos mortos", diz Tavares.
Casa de Serralves
Rua de Serralves
1925-1943
É uma das últimas obras a que Marques da Silva tem o nome ligado, já
que só no início dos anos 40 é que foi terminada a Casa de Serralves,
para a qual o arquitecto fizera, a pedido do proprietário, o Conde de
Vizela, um primeiro projecto de ampliação da velha moradia da família.
Sabe-se agora que Serralves resultou da contribuição de múltiplos
arquitectos e decoradores franceses, de Jacques Émile Ruhlmann a
Charles Siclis, Jacques Gréber e Alfred Porteneuve. Mas Marques da
Silva, que era uma espécie de "arquitecto de família", acompanhou a
obra até ao fim, sendo, de algum modo, o responsável pela síntese
coerente com ar de "modernismo temperado", diz André Tavares.
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